Certamente esta é uma dúvida nem um pouco nova. Existem milhões de textos e pregações a respeito desse tema, mas sempre surgem dúvidas, muitas vezes embasadas em passagens da própria Bíblia Sagrada, tais como: “Portanto, sejam perfeitos, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu.” (Mt 5:48); “Assim, quem vive unido com Cristo não continua pecando. Porém quem continua pecando nunca o viu e nunca o conheceu.” (I Jo 3:6), dentre outros.
Muitos podem perguntar, como eu mesmo já perguntei milhares e milhares de vezes: “Como é possível viver sem pecar? Eu tento, tento e quando percebo... pequei.” Aí aparecem aqueles abençoados fariseus do século XXI: “É porque você não tentou o bastante”, ou “é porque você tentou, e quem tenta não consegue. Você tem que tomar a decisão de não pecar e pronto”, “Deus quando faz a obra, faz de uma vez e não à prestação”. Você já ouviu algum dia esse tipo de acusação? Ou já proferiu algo do gênero?
Não percebem o mal que fazem na mente e na vida de quem ouve essas coisa. Muitos chegam ao ponto de achar a vida dentro do corpo de Cristo pior que a vida no mundo. As pessoas lá fora estão perdidas, sem rumo, procurando uma luz em diversas doutrinas, como o espiritismo, o candomblé, o budismo, nova era (gnosticismo), o islamismo (que está crescendo assustadoramente no mundo todo). Quando finalmente o Espírito Santo os faz entrar numa igreja e ouvem a Verdade, e aceitam a Verdade, e tomam a decisão pelo batismo nas águas, quando pensam que finalmente terão paz, aí ouvem aquele versículo: “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo”. (II Co 5:17). Até aí tudo bem. Jesus faz realmente tudo ficar novo. Só que recém-convertido pensa como muitos: Agora sou crente, eu TENHO QUE ser perfeito diante de Deus. NÃO POSSO mais pecar.
Bom, agora vamos dar uma parada para pensar em como poderia ser a vida dessa pessoa antes de aceitar Jesus. Diferente do crente que já nasceu em lar evangélico, certamente ela tinha seus vícios e pecados. Hábitos que no mundão lá fora são até aceitáveis, como beber um chopinho com os amigos ou com a família, beber champanhe em ocasiões especiais (fim de ano, formatura, casamento), transar com o namorado ou com a namorada, chamar um palavrãozinho de vez em quando (desde que não xingue ninguém). Esse talvez seja um estilo de vida aceitável dentro de uma sociedade não cristã. Nem todo mundo fora do Evangelho é drogado, alcoólatra, promíscuo, ladrão, homicida, viciado em jogo.
Antes de aceitar Jesus eu tinha uma vida desregrada, é verdade. Quando eu decidi mudar de vida, eu corri para dentro de uma igreja, desapareci de perto das pessoas junto das quais costumava ir para o mau caminho, caso contrário minha vida teria ido ribanceira abaixo. Passei a conviver com pessoas cristãs. Tive que me acostumar a me divertir com os amigos rachando a conta da pizza com guaraná. O que realmente é maravilhoso. E finalmente descobri o que é me divertir... Sem beber uma gota de álcool. Pois bem, hoje eu não fumo e nem bebo, para a honra e a glória de Jesus. Casei e sou fiel a minha esposa e, sabe de uma coisa? Eu sou muitíssimo feliz em viver deste modo. Mas estou anos luz de distância da perfeição.
Agora vou começar a escrever sobre o que o Senhor falou ao meu coração sobre esse negócio de perfeição...
Há uma semana que fiquei sem dormir, deprimido (é, crente também pode ficar deprimido. Ninguém aqui é Superman. Super só Jesus) eu fiz aquela celebre pergunta da maioria dos crentes: “Deus, por que eu? O que o Senhor viu em mim?”, “Tá vendo? Eu tento, tento, tento e não consigo ser um homem segundo o teu coração. Não consigo ser perfeito”. E listei todas as minhas falhas na minha vida profissional, em relação a minha familiar, no meu proceder dentro da Sua Obra. E, ouvindo um CD do Lázaro (ex-Olodum), ouvi o mesmo mencionar que fez mais ou menos a mesma pergunta pra Deus. E o Senhor citou I Coríntios 1:27 e 28: “Para envergonhar os sábios, Deus escolheu aquilo que o mundo acha que é loucura; e, para envergonhar os poderosos, ele escolheu o que o mundo acha fraco. Para destruir o que o mundo pensa que é importante, Deus escolheu aquilo que o mundo despreza, acha humilde e diz que não tem valor”.
Nesse momento eu, ouvindo o CD, comecei a entender o que Deus tinha visto em mim. O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, citou 5 (cinco) características que Deus leva em consideração ao usar alguém em sua obra, não que seja uma regra, do tipo “Deus só usa esse tipo de gente”. Não. Mas, se lermos algumas passagens das Sagradas Escrituras, percebemos que Deus usou pessoas e estratégias que fugiam totalmente da lógica humana. Deus usou quatro leprosos para livra os israelitas de um exército inimigo (II Rs 7:3-15); Deus usou vasos, tochas e cornetas, usados pelo exército de Gideão, para afugentar um forte e poderoso exército (Jz 7); o povo liderado por Josué pôs a baixo a muralha de Jericó sem encostar um único dedo nos muros da cidade, somente rodeando a cidade sete vezes e bradando (Js 6). E quais são essas cinco características? Loucura, Fraqueza, Desprezo, Humildade e O Que Não Tem Valor.
Já deu para eliminar várias outras coisas que Deus certamente não viu em mim, nem no Lázaro, e nem em você que foi chamado por Ele para a Sua Obra.
Aí eu imagino um pequeno diálogo entre você e Deus:
Você: Deus esse negócio de perfeição tá me deixando doido.
Deus: Isso não é problema, “pois aquilo que parece ser a loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana...” (I Co 1:25).
Você: Eu tento, tento, mas sou muito fraco contra as tentações.
Deus: ... “e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana” (I Co 1:25). Além do mais, “... o meu poder é mais forte quando você está fraco” (II Co 12:9)
Você: Todo mundo diz que eu não presto, que eu não valho nada, todos me desprezam. Eu não sou nada!
Deus: “Parabéns! Você tá aprovado pro cargo!!!”
Meu irmão o Corpo de Cristo é o único lugar do mundo em que as pessoas menos qualificadas são chamadas para ocuparem cargos altos, como: Embaixadores, Príncipes e Princesas, Ministros, dentre outros.
Jesus nunca nos disse que seria fácil viver neste mundo. Ele foi muito sincero. Ele disse: “Eu digo isso para que, por estarem unidos comigo, vocês tenham paz. No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo.” (Jo 16:33)
É, realmente, nem você e nem eu somos nada. Só Ele é o Grande EU SOU (Êx 3:14). Nós só somos alguma coisa graças à misericórdia do nosso Pai celeste. E certamente Ele não se enganou quando te escolheu e nem quando ele escolheu a mim. Ele nos conheceu quando ainda estávamos nos ventres de nossas mães (Sl 139:13). Ele diz: “Não tenha medo, pois Eu o salvarei; Eu o chamei pelo seu nome, e você é meu”. (Is 43:1)
Mas, então como ser perfeito diante de Deus?
Em Gêneses 5:24, lemos sobre Enoque: “Ele viveu sempre em comunhão com Deus e um dia desapareceu, pois Deus o levou”. Em Gêneses 6:9-10, as Escrituras nos dizem: “Esta é a história de Noé. Ele foi pai de três filhos: Sem, Cam e Jafé. Noé era um homem direito e sempre obedecia a Deus. Entre os homens do seu tempo, Noé vivia em comunhão com Deus”. Gêneses 17: 1 nos informa que “quando Abrão tinha noventa e nove anos, o Senhor Deus apareceu a ele e disse: -- Eu sou o Deus Todo-Poderoso. Viva uma vida de comunhão comigo e seja obediente a mim em tudo”. A Bíblia na versão Almeida Revista e Corrigida, mostra Deus dizendo nesta mesma passagem: “Anda em minha presença e sê perfeito”. No Salmo 116: 9, o Grande Rei Davi determina: “Por isso, no mundo dos que estão vivos, viverei uma vida de obediência a ele”.
Todas essas passagens nos ensinam algo tremendo:
1) Deus está nos dizendo para termos comunhão com Ele. Na Bíblia na versão Almeida Revista e Corrigida, lemos a expressão “andar com Deus”, ou “andar na presença de Deus”.
2) A perfeição é a conseqüência de andarmos com Ele. O Senhor nos ensina como sermos obedientes.
Deixe-me dizer algo que muitas vezes nos é ensinado, quem sabe, de forma equivocada. Muitas pessoas, sinceras, ensinam que devemos fazer as coisas que agradam a Jesus.
Certa vez assisti uma pregação que ilustrava uma mulher cristã comprando uma roupa, por exemplo. Ela deveria se perguntar se Cristo se agradaria ao vê-la vestida com essa ou aquela roupa. Caso ela imaginasse que sim, ela compraria tal roupa, caso contrário, ou seja, se ela achasse que Jesus não gostasse, ela não compraria o vestuário em questão.
Ao assistir essa pregação, eu me peguei sentindo raiva, pois caso sentisse vontade de fazer algo que estivesse em desarmonia com as “normas” cristãs, representadas pelo rosto de Jesus sorridente ou triste, eu começaria a não fazê-las por serem proibidas, e não por vontade própria.
Vamos usar novamente o meu exemplo. Antes de me converter eu tinha várias coleções de discos de vinil, fitas VHS, fitas k7, cd’s, dvd’s, de várias bandas seculares internacionais que fizeram sucesso nos anos 60, 70 e 80. Eu tinha um acervo de mais ou menos novecentos álbuns (contando todas as mídias citadas acima) e, obviamente os irmãos da igreja diziam: “irmão, você agora é nova criatura. Você deve se livrar dessas coisas. Isso traz maldição. Essas músicas têm mensagens subliminares (isso é fato, e eu conhecia todas as mensagens ocultas, principalmente nas músicas dos Beatles)”. Mas, enfim, eu me sentia penalizado de jogar tudo aquilo fora. Afinal de contas deu muito trabalho colecionar todos aqueles discos.
Os irmãos contavam até aquela metáfora clássica do recém convertido que permite que o Diabo coloque um preguinho no seu coração (como se fosse uma casa) e depois ele (o capeta) coloca um pedaço de carne preso ao preguinho e aquilo contamina todo o coração novamente.
Passou alguns anos até que experimentei um momento maravilhoso em que o Senhor agiu poderosamente na minha vida. Resultado: Vendi em torno de 80% do meu acervo musical, e com o dinheiro comprei cd’s e livros cristãos, para mim e para abençoar outras pessoas. Do que sobrou, joguei quase tudo fora, e o restinho ficou juntando poeira no canto do quarto. Um ano depois comecei a sentir saudade daqueles discos.
Aí alguém pode dizer: “Irmão, vigia!!! Isso é o inimigo te tentando!”.
Pode ser irmão, mas o que aconteceu foi que eu vendi tudo aquilo porque eu não podia ir à igreja ouvindo rock. Em vez disso eu poderia, simplesmente, ter mudado os meus interesses musicais por estar andando com Alguém que me apresentou a novos e melhores estilos musicais.
Nessa semana o Senhor sussurrou ao meu ouvido diversas vezes a mesma frase: “Anda comigo e sê perfeito. Anda comigo e sê perfeito. Anda com Deus e sê perfeito”.
Eu sempre pensei que eu deveria fazer duas coisas: 1) Andar com Deus, 2) Ser perfeito. E não é bem assim.
Devemos unicamente andar com Deus.
O ser perfeito é uma conseqüência de andarmos com Deus.
Vamos lembrar aquele jargão “Dizes com quem andas e te direi quem és”. O que quer dizer isso?
Não quer dizer, necessariamente, que se andar com um sujeito de má fama, eu serei, talvez por osmose, igual a ele. Mas se eu ando com alguém continuamente, com o tempo eu irei compactuar com seus hábitos. Mesmo que não concorde com o que ele faz, ainda assim, muitas vezes, me omitirei para não “ofendê-lo”.
Se, ao contrário, eu ando com alguém de boa índole, irei compactuar, igualmente, com seus atos, e ele com os meu. Faremos as mesmas coisas juntos. Mesmo que sinta vontade de fazer algo que fazia antes e essa pessoa não concorde, se eu passar tanto tempo junto a essa pessoa não dará tempo para mais nada.
Assim mesmo acontece se eu andar com Deus continuamente. Não terei mais tempo para fazer o que fazia antes e que esteja em desacordo com a vida cristã. Não terei mais tempo para estar longe do Senhor, uma vez que eu estarei sempre diante dEle, ou seja, acordarei em sua presença (Bom dia Senhor Jesus!), andarei com Ele para o meu trabalho, trabalharei com Ele, almoçarei com Ele (Te dou graças, Senhor, pelo alimento), voltarei para casa com o meu Deus, sairemos eu e minha esposa, juntos com o Nosso Salvador. “E até quando estivermos em nosso momento de maior intimidade?” Sim! (Senhor, abençoe esse momento tão sublime, o presente do Senhor aos seres humanos quando os criou. “Ele os criou homem e mulher”. (Gn 1:27). “E o que eu fazia outrora e que não estava em desacordo com a Palavra de Deus?” Você Poderá continuar a fazê-las junto com Jesus.
E o que acontece se, de tanto passarmos o nosso tempo na companhia de Jesus?
Duas coisas:
1) Não teremos mais tempo ocioso para fazer o que é errado aos olhos de Deus.
Vamos falar agora em “psicologês”. Se um comportamento não é reforçado ele se extingue. Se eu deixo de fazer algo, por motivos vários, aquele comportamento, depois de um tempo, deixa de fazer falta. E se substituo tal comportamento por outro qualquer e que também me gratifique, me dê prazer, melhor ainda. Cumpre-se o que o apóstolo Paulo afirmou na sua segunda epístola aos coríntios: “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo”. (II Co 5:17). Claro como água!!! Se eu ando continuamente diante de Deus os meus velhos hábitos serão substituídos por novos.
2) Teremos mais tempo para nos tornarmos íntimos de Deus.
Quando duas pessoas passam muito tempo trabalhando juntas, por exemplo, com o tempo, elas se tornam muito próximas afetivamente. Conversam sobre situações pessoais, familiares, pedem e dão conselhos, enfim. Em nossa rotina profissional, às vezes, chegamos a conviver mais com os colegas de trabalho do que com o cônjuge e os filhos. Assim mesmo ocorre com o nosso convívio com Deus. Como é que passamos tempo com Deus. Já citei algumas situações nas linhas acima. É através da oração que desenvolvemos intimidade com o nosso Senhor e Rei.
O Senhor me fez lembrar aquelas pessoas que, quando na ocasião do grande dia do juízo, irão dizer ao Mestre: “Senhor, Senhor, pelo poder do Teu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo Teu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres (Mt 7:22). Nós comemos e bebemos com o Senhor. O Senhor ensinou na nossa cidade (Lc 13:26)”. O Senhor Jesus dirá: “Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal (Mt 7:23)”.
Diante da passagem acima, o Senhor nos está dizendo que nós só conhecemos alguém se conversarmos com ela, falamos de nossas vidas, contamos nossas preocupações e nossas alegrias, pedirmos conselhos, até. Com Deus é do mesmo modo. Jesus nos conhece desde o ventre de nossas mães, mas se não conversarmos com Ele, é impossível desenvolver intimidade. Ele quer saber das tuas alegrias e tristezas, dos teus sucessos e fracassos. Ele sabe de tudo que necessitamos antes mesmo que o pronunciemos, mas Deus quer ser nossoAmigo mais íntimo. Ele é a pessoa que mais se importa com o teu e o meu bem-estar.
Existem irmãos e irmãs em Cristo que gostam muito de ir à igreja para adorar, rir, chorar, ouvir a palavra ministrada, receber as bênçãos. Alguns outros gostam algo mais radical: Batalha Espiritual. Outros, assim como o povo de Corazim, Betsaida e Cafarnaum (Lc 10:13-15), só querem saber dos milagres. Para estes, Deus é uma espécie de Gênio da Lampada, só que com capacidade ilimitada para pedidos.
Deus não se nega a fazer milagres, nem a derramar do Seu Espírito sobre a Sua igreja, porém, mais importante que tudo isso, Ele quer ter comunhão conosco. Ele quer nos ter com amigos dEle. Nós só podemos nos relacionar com Deus, e com Ele termos intimidade e comunhão, através da oração.
Vão ficar a esquerda de Cristo, entre os injustos, pessoas que acharam mais importante ter proximidade com o Reino, do que ter intimidade com o Rei. É por isso que Jesus não se lembrará de irmãos nossos. Porque não buscaram ter intimidade com o Mestre através da oração.
Outro aspecto do convívio com Deus é que, através do Espírito Santo, Ele nos ensina todas as coisas, inclusive a sermos obedientes a Sua Palavra. (Jo 14:26)
“Irmão André, Noé pecou, assim como Abraão e Davi”. É verdade. Todos eles pecaram, mas se arrependeram dos seus atos, e continuaram andando com Deus. Quem determina quando você, digamos, irá se formar em perfeição não é você, é Deus. Preocupe-se tão somente em andar com Deus. Quando você estará pronto, deixa pra Deus.
Devemos insistir nessa caminhada junto com Jesus. Devemos fazer como Paulo, em Filipenses 3:14: “Prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”. (Fl 3:14) E, quem sabe, no final da vida, possamos dizer: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. (II Tm 4:7)
A minha oração é para que essa mensagem sirva para a edificação da Igreja de Cristo , ou seja, eu e você que está lendo (lembre-se que nós somos templo e morada do Espírito Santo - I Co 6:19) e, acima de tudo, para a Glória e Honra do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
Que Deus o abençoe.
Amém.
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