Ética em S. Tomás de Aquino e S. Agostinho

São Tomás de Aquino é um dos expoentes mais intrigantes e completos da Escolástica. Conhecido por “doutor angélico” pelos metafísicos mais heréticos deixa a posteridade com maestria e transparência lógica uma excelente síntese do pensamento de sua época. Tomás realiza com sutileza, uma conexão orgânica que permite o diálogo entre Platão, Aristóteles e Agostinho.

Nascido no berço da cultura italiana recebeu sólida formação humana, filosófica e teológica nos melhores universidades cristãs da efervescente Europa do século XII. Descendente de família tradicional tinha seu destino determinado e o cumpriu com dedicação e afinco mergulhando profundamente na filosofia e teologia.
Sua conduta cristã fundamentou em muito seus escritos que contempla a filosofia, teologia, moral e a ética. Estabelece uma relação de concomitância agregadora entre razão e fé e afirma que a teologia não pode excluir a filosofia e que cada saber tem sua importância e razão de ser.
Para são Tomás de Aquino a justificativa ética da vida humana tem sua fundamentação na razão despedida por Deus. A existência humana é teleológica e o homem tem consciência de sua finitude por meio da razão.
Por natureza o homem criado a imagem e semelhança de seu criador, têm a centelha do bem universal e por meio da racionalidade é levado a Deus. Porém, ele é livre e pode escolher o bem ou o mal.
Para Tomás de Aquino ser ético é escolher o bem, ou seja, não contrariando a razão. Ético é a inclinação para o bem, aquilo que está de acordo com a razão e a lei, já que a razão é a orientação da mesma.
A lei eterna é constituída por Deus e é revelada por nos dez mandamentos. A lei natural é feita por Deus e imutável, subordinada a lei eterna e em função do homem. Já a lei natural é mutável, mortal e contingente. A lei deve ser universal e ter como objetivo tornar o homem bom de acordo com o dom de Deus. O representante da lei deve fazer com que as leis sejam cumpridas de maneira equilibrada de maneira a trazer harmonia nas relações. A lei positiva é feita pelo homem com o intuito de estabelece justiça na disposição constante da vontade, dando a cada um o que lhe é seu.
A verdade para Tomás de Aquino é definida como uma “conformidade da coisa com a inteligência”. Tudo o que existe, seja visível ou invisível é verdadeiro e cita o exemplo da pedra que é real e pode ser vista e tocada. Já a pedra no fundo do mar também é verdadeira, entretanto não pode ser vista, mas ela está lá. A verdade é o meio pelo qual se manifesta aquilo que é. Sendo assim a verdade está nas coisas e no intelecto o tornar conhecida. Só se pode conhecer a verdade se você conhece o que é o ser.
Agostinho nasceu em Tagaste, na Numídia, em 13 de novembro de 354 em cidadezinha africana de pouca expressão. Agostinho é filho de Patrício, pagão, e Mônica, cristã fervorosa que procura educar seu filho, segundo os princípios e valores cristãos.
Agostinho é um dos mais conhecidos, criticados e estudados autores da filosofia antiga e hoje continua sendo referência em assuntos ligados a filosofia, teologia, antropologia.
O autor africano sofreu grande influência da filosofia neoplatônica e do pensamento cristão nascente, especialmente dos padres da igreja e de Santo Ambrósio. Estas influências acompanharão Agostinho a vida toda, em sua árdua missão de estabelecer e sedimentar as bases do pensamento cristão.
A partir de sua vasta produção é possível pensar uma ética agostiniana, não fazendo uma cisão entre filosofia e teologia, philosophie ancila teologie, mas numa complementação que pensa o homem enquanto sujeito integral.
É inquestionável o fato de que o pensamento agostiniano é eminentemente guiado por uma intenção teológica. Agostinho escreve com ardor inverterado, com uma missão apologética de afirmação do cristianismo procurando anda que meio trôpego estabelecer a ética cristã fundada a partir da racionalidade, onde é possível ver o primeiro modelo de uma filosofia cristã.
Apesar de ter sido guiado por uma motivação predominantemente teológica, é explicita a sua dimensão filosófica e ética. Podemos encontrar no autor neoplatonico o primeiro modelo de uma filosofia cristã na história da filosofia. Agostinho traz muitas inovações, é o primeiro a imprimir na sua obra a marca pessoal mais profunda, e na história do Ocidente o eu como categoria fundante da Antropologia. Em sua procura por si mesmo, na busca dos caminhos da interioridade é guiado por uma profunda experiência intelectual e moral que lhe proporciona um grande conhecimento pessoal.
Outro tema característico agostiniano é o amor à sabedoria que será o seu impulso mais forte no itinerário de suas reflexões morais sobre o costume e a lei moral, a lei divina, a natureza como norma e as faltas morais. Ao herdar as idéias de Platão, Agostinho adere à teoria do conhecimento e à metafísica neoplatônica, que explorará profunda e detalhadamente em suas numerosas obras.
O amor e a felicidade fazem parte das noções centrais da moral agostiniana, pois, convém ao homem escolher bem o objeto do seu amor. O homem será bom ou mau de acordo com o objeto bom ou mau de seu amor e para Agostinho o fim último do amor humano está no Sumo Bem, Deus.
Todo homem quer a felicidade e saí à sua procura, foi o que Agostinho fez e ao encontrar a Deus, encontra a si mesmo e o caminho para a felicidade. As coisas materiais não trazem a felicidade, apenas dão a ilusão que pode se possível, porém traz um vazio só preenchido com o encontro pessoal consigo mesmo.
O homem foi feito para Deus e só Nele encontrará a verdadeira alegria, na cidade de Deus e cidade terrestre está a luta do homem que deve encontrar no amor a força motriz da vontade. A realidade imanente que nos cerca dá a possibilidade de contemplar a transcendência e vivenciar as alegrias celestes.
Para Agostinho, todos os homens querem ser alegres e felizes, mas a verdadeira alegria só vem de Deus. A carne e seus apelos, a matéria, podem levar o homem a confundir-se e fazer aquilo que pode fazer, mas não aquilo que realmente quer fazer. Deus é a felicidade porque é a verdade. E a alegria reside na verdade. Esta é uma só, e Deus a sua fonte. Reside ela na memória, pois, como exemplifica Agostinho, desde o episódio de sua iluminação em que encontrou a serenidade de espírito, Agostinho encontrou sempre a mesma verdade, e dela se lembrou. Desde que conheceu a Deus, dele se esqueceu, e este permanece em sua memória como fonte de suas delícias.
   O homem deve invocar a Deus, mas este já habita nele. Para voltar a encontrar a verdade, tem de purificar sua alma, livrando-se principalmente do orgulho e da soberba, das comoções da carne, seguindo exemplo de Jesus Cristo, que foi ao mesmo tempo Deus e homem, verbo imortal e carne perecível. Este morreu para salvar o homem do pecado original.
Procurar a verdade é a essência da aventura do humano, que se proclama “racional” e para Agostinho a verdade é aquilo pelo qual julgamos todas as coisas. O projeto ético de Agostinho impulsiona para o homem para a beatitude e para a verdade, e quando se encontra o caminho do bem e da verdade, encontra o caminho para Deus e para a felicidade.

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